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ESTRELA

Indústrias aceleram processo de recuperação pós-enchente

Com contagem dos prejuízos ainda em andamento, empreendedores destacam a participação conjunta das equipes para a retomada, enquanto preparam novas estratégias para lidar com eventuais cheias

Na Rhodoss, a água não atingiu os tanques prontos, mas paralisou a produção e causou prejuízo milionário. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

A enchente histórica do início de setembro revela um aspecto importante no cenário econômico do município. A vulnerabilidade das indústrias localizadas nas proximidades do Rio Taquari gerou prejuízos milionários para muitos negócios e pode acelerar mudanças de planejamento. Nenhuma empresa do setor encerrou atividades, mas planos de contingência e adaptações nas estruturas passam a fazer parte da rotina.

Ao mesmo tempo, as dúvidas sobre a efetividade de ações direcionadas a empresas de médio e grande porte preocupam os gestores. Apenas em Estrela, pelo menos dez indústrias tiveram algum tipo de prejuízo devido à cheia. Por outro lado, governo municipal e entidades setoriais ainda não conseguiram calcular as perdas de forma mais específica e desenhar estratégias para o segmento.

Em nível regional, um gabinete itinerante formado pela Junta Comercial do Estado (JucisRS) e pelo Sebrae fez um levantamento, divulgado na quarta-feira, 27. Das 1,3 mil empresas que responderam ao questionário, 93% foram afetadas diretamente pela cheia. Dados mostram que as estimativas de perdas das empresas ficam, em sua maioria, em até 50% (41% dos casos), mas 23% delas tiveram perda total de seus maquinários e estoques.

Calcula-se que o valor perdido entre as companhias que responderam à pesquisa supera os R$ 420 milhões, sendo os prejuízos mais expressivos no setor da indústria. Os setores mais atingidos foram de comércio (43%) e serviços (43%), seguidos pelo da indústria (14%). Dessas empresas, 35% são de microempresários individuais (MEI), 59% de micro empresas ou empresas de pequeno porte (ME e EPP) e 6% de demais portes.

Mudança antecipada

Sediada no bairro das Indústrias, uma das localidades mais atingidas pela enchente, a CapsExpress ainda calcula os impactos financeiros, enquanto atua para retomar as atividades o quanto antes. O setor de produção da empresa ficou praticamente todo submerso, com a água em 1,5 metro na parte interna. O relato é do diretor executivo Estevão Calheirana.

“Levantamos tudo, porque na enchente de 27 metros a água quase chegou aqui. Desta vez veio com muita correnteza, tombou tudo que estava levantado. Perdemos praticamente todo estoque de pós”, lembra. Os pós, mencionados por ele, são para fabricação de suplementos alimentares, a atividade fim do empreendimento.

Isso representa cerca de 50% do estoque. Outra parte do produto são as cápsulas, que ficam em outro local e conseguiram ser preservadas. Desta forma, a linha de produção ficou parada por dez dias. “Hoje para nós, o dia parado é R$ 100 mil sem faturar. Então, nesse período, estimamos sim uma perda considerável”, acrescenta o gestor.

O planejamento de mudança da sede foi alterado, diante da enchente. Já com limitações de espaço, devido ao crescimento na produção, a perspectiva de encontrar outro lugar em três anos será antecipada para um.

Calheirana mantém a expectativa de receber apoio governamental, uma vez, na avaliação dele, que isso ajudaria, inclusive, nas finanças públicas. “Tendo em vista que nosso imposto aqui é quatro vezes a folha, se o Estado investisse agora em recuperar as empresas, ele teria o lucro desse investimento”, calcula.

Aprendizado e contingência

A Rhodoss, fabricante de implementos rodoviários, fica no centro de Estrela, próximo da antiga fábrica da Polar. Os pavilhões são costeados pelo Taquari, que nesta cheia entrou na maior parte da linha de produção e nos escritórios, com altura de até 1,2 metro. A força das águas foi tamanha, que derrubou 150 metros de muro nos fundos do pátio.

Antes da retomada, a empresa passou por alguns processos, como a limpeza da estrutura e o levantamento de perdas. O sócio-administrador Nilto Scapin ressalta a participação dos funcionários para a reorganização. “Foi muito importante a dedicação. Fizemos virada de turno, com revezamento, para recuperar o mais breve possível.”

Entre custos de manutenção e o tempo parado, sem produzir, Scapin estima um prejuízo de R$ 1 milhão. “Tivemos perdas na produção e também deixamos de entregar. Na segunda-feira seguinte à enchente, retomamos com 30% e voltamos gradativamente”, acrescenta. Muitas das máquinas fixas necessitaram da retirada e troca de peças, por não ser possível o manejo do equipamento.

Como aprendizado, a empresa, que conta com 108 funcionários, estuda fazer um plano de monitoramento. “Importante enquanto contingência, o que fazer, onde fazer primeiro, para permitir uma retomada mais rápida, diante dos transtornos”, explica o gestor administrativo Guilherme Cé. Mesmo com os desafios, Scapin garante a permanência da empresa no mesmo local, enquanto o espaço físico permitir.

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