Jornal Nova Geração

ELEIÇÕES 2022

Desempenho de candidatos de fora atrapalha planos de políticos do Vale

Dos 38 municípios da região, em 35 o candidato mais votado a federal foi de outra região. Na corrida à Assembleia, nomes locais venceram em mais cidades, mas diluição dos votos dificultou performances

Crédito: Divulgação

Mais uma vez, a região falhou na tentativa de eleger representantes locais nos parlamentos. E o desempenho de candidatos de fora em boa parte dos municípios contribuiu para o insucesso pelo segundo pleito consecutivo. Concorrentes com mandato vigente fizeram valer a maior força política e econômica para angariar votos dos eleitores do Vale.

Levantamento feito pelo Grupo A Hora, com base nos dados disponibilizados dos 38 municípios do Vale, mostra que nomes de fora venceram em 16 municípios na corrida à Assembleia Legislativa. Já na disputa para a Câmara dos Deputados, 35 cidades deram mais votos aos políticos de fora. Havia cinco candidatos do Vale no páreo.

Em cidades como Anta Gorda, Progresso, Putinga e Relvado, candidatos locais não aparecem sequer entre os três mais votados para os dois cargos. Enquanto isso, nomes de regiões vizinhas, como o Vale do Rio Pardo, Alto da Serra do Botucaraí e Serra Gaúcha figuram com destaque em diversos municípios.

Por outro lado, nos municípios maiores e mais próximos dos principais centros urbanos do Vale, os eleitores priorizaram candidatos identificados com as demandas regionais. Lajeado, Estrela, Teutônia, Arroio do Meio, Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul, Fazenda Vilanova emplacaram três nomes locais entre os mais votados para deputado estadual.

Peso das emendas

Reeleito para o quarto mandato à Câmara, Alceu Moreira (MDB) foi o candidato com mais vitórias no Vale. Ele venceu em oito municípios, seguido por Lucas Redecker (PSDB), com sete, e Giovani Cherini (PL), com cinco. Afonso Hamm (PP), Bohn Gass (PT), Heitor Schuch (PSB) e Pedro Westphalen (PP), todos reeleitos, também foram os mais votados em mais de um município.

Em Lajeado, Enio Bacci (União Brasil) foi o mais votado, mas viu seu desempenho piorar na comparação com pleitos anteriores. Em 2010, último ano em que foi eleito deputado federal, somou 14,1 mil votos na cidade. Desta vez, foram apenas 6,5 mil. Seu auge foi em 2002, quando fez 16,4 mil, o que lhe ajudou na ocasião a se eleger pela terceira vez ao cargo.

Ricardo Wagner (PTB), que concorreu pela segunda vez consecutiva a deputado federal, venceu em Estrela, sua terra natal. Foram 1,6 mil votos. Por fim, Yê (MDB) somou 1,9 mil votos em Encantado, cidade em que exerce o segundo mandato de vereadora.

Para o cientista político Fredi Camargo, os candidatos do Vale tiveram grande desvantagem na disputa. “Está mais do que comprovado que as emendas parlamentares são um instrumento de fidelização de eleitorado. Um deputado federal tem R$ 15 milhões por ano para distribuir. No mandato, são R$ 60 milhões. É um talão de cheque bem gordo”, ressalta.

Votos espalhados

Na eleição para a Assembleia Legislativa, os candidatos locais tiveram desempenho melhor. Gláucia Schumacher (PP) foi a campeã de votos em Lajeado (12,6 mil votos), onde é vice-prefeita. Três vereadores e dois ex-vereadores também venceram nas suas cidades: João Braun (Estrela), Geci Mallmann (Forquetinha), Wilkyns Gross (Marques de Souza), Tiago Pedroso (Bom Retiro do Sul) e Bira do Ônibus (Cruzeiro do Sul).

Em outros três municípios, os vencedores foram ex-prefeitos: José Scorsatto, em Arvorezinha, Jonatan Brönstrup, em Teutônia, e Maneco Hassen, em Taquari. O pedetista ainda venceu em outras quatro cidades, enquanto o petista foi o campeão de votos também em Paverama e Tabaí, e o tucano liderou em Westfália.

Márcia Scherer (MDB) foi a que venceu em mais municípios (seis) do Vale, com destaque para Arroio do Meio, onde somou mais de 3 mil votos. Ela divide o posto com um político de fora e colega de partido. Ex-secretário dos Transportes do RS, Juvir Costella coleciona vitórias em cidades da parte alta.

Diluição

Camargo entende que a diluição dos votos e o excesso de candidaturas – inclusive dentro do mesmo partido – dificultaram a eleição dos nomes locais para o parlamento gaúcho. Cita o caso de Gláucia e Braun, ambos do PP, que disputaram a mesma fatia do eleitorado regional.

“É uma questão de representatividade. O Maneco conseguiu isso, pois conseguiu unificar o PT e a esquerda na região. Mas também não se elegeu. E nos municípios pequenos, os mais votados são locais. Mas são quantos votos em disputa? Poucos”, cita.

Para o cientista político, além do poderio econômico, as relações também atrapalham os planos do Vale em eleger deputados. “Política é a arte da relação. E política não se faz da noite para o dia. Tem que ter conhecimento do que o povo quer. Falar a linguagem das pessoas. E se organizar e planejar a longo prazo”.

CANDIDATOS À CÂMARA MAIS VOTADOS POR CIDADE

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