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Capelinhas: uma tradição católica de 70 anos

Costume de levar imagens do Imaculado Coração de Maria remonta ao século 19. Em Estrela, onde cerca de 3 mil residências estão nas rotas da santa, prática tem origens no cuidado aos doentes

Rosângela teve a companhia da santa desde o diagnóstico de sua doença. Os netos Pierre e Pietra a acompanham nas orações. Crédito: Marcelo Grisa

A tradição das capelinhas do Imaculado Coração de Maria nas comunidades católicas completou 70 anos na Paróquia Santo Antônio, em Estrela, nesta semana. Em 22 de agosto, o então cônego Reinaldo Juchem abençoou as primeiras sete imagens móveis para serem distribuídas nas comunidades. A data foi celebrada com missa no sábado, 26, no centro da cidade.

A tradição continua forte até hoje. São 170 capelinhas em 22 bairros e comunidades do município. Cada uma delas atende, em média, de 15 a 20 famílias. São cerca de 3 mil residências que recebem, em suas casas, a imagem da Nossa Senhora que simboliza a visita de Maria, ainda grávida, à casa de sua prima, Santa Isabel.

Isso porque o movimento já foi maior na paróquia. “A pandemia nos trancou bastante”, lembra a coordenadora das capelinhas na Santo Antônio, Marlene Werle. Ela afirma que era um desafio grande recomeçar as rotas após um momento em que não era seguro fazer circular um objeto por várias casas em uma mesma rua, bairro ou comunidade.

Foto: Marcelo Grisa

História

Na Bíblia, o evangelho de Lucas conta que a parente teria se alegrado muito, reconhecendo quem seria o filho ainda não nascido da visitante. Dessa forma, a tradição das capelinhas foi criada em 26 de agosto de 1888, há 135 anos, em Guayaquil, na Colômbia.

A ideia veio, na época, para trazer a visita da Virgem Maria às casas ao usar a imagem do Imaculado Coração para incentivar as famílias a uma maior participação na Igreja. No Brasil, a tradição começou em 1914, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.

Dessa forma, a prática de passar a santa de casa em casa na vizinhança reúne as famílias dentro e fora de casa. “Era nas casas que Jesus fazia o anúncio, onde curava”, lembra Marlene Werle.

Rosângela Dahmer mudou-se para o bairro Cristo Rei há cerca de dois anos. Ela morava em Bom Retiro do Sul, onde já recebia o Imaculado Coração em casa. Logo que chegou, já foi incluída na rota do bairro. “Eu organizo todo mundo. É uma visita muito importante”, afirma.

Os netos, Pietra, 5 anos, e Pierre, 3, se juntam à avó para rezar nas noites em que a “santinha” está lá. Além disso, eles pedem ao resto da família as moedas que serão inseridas na parte de trás da casinha de madeira. Os recursos são revertidos para atividades da comunidade católica.

Pela saúde das famílias

A história das capelinhas na Paróquia Santo Antônio começa com Lucila Schwertner. Ela acompanhava o marido doente, internado em Santa Cruz do Sul, quando foi à casa de sua cunhada. Lá, ela rezou ao Imaculado Coração de Maria e prometeu levar a tradição para Estrela com ela para que a santa ajudasse na situação de seu companheiro.

Marlene tem uma história muito parecida com a da pioneira Lucila. Seu esposo, em fevereiro de 2020, estava hospitalizado. “Chegou o momento de voltar da sedação e ele não reagia.Rezei o terço todos os dias e pedi à Nossa Senhora”, lembra. Após o fato, ela passou a atuar na organização das capelinhas.

Rosângela pediu a intercessão do Imaculado Coração de Maria pela própria saúde. No mesmo dia em que recebeu o diagnóstico de câncer, a imagem de Maria chegava em sua casa mais uma vez. “Fiz minha cirurgia, estou me recuperando. Eu sou muito, muito grata.”

Importância

O professor Leônidas Erthal pesquisa o assunto pelo menos desde 2003, quando entrevistou Lucila Schwertner, hoje falecida.
As tradições e histórias de cada cidade são, para Erthal, fonte de inspiração ao futuro. “Ao manter as famílias unidas em torno da espiritualidade, práticas como essas trabalham para formar e fortalecer a sociedade”, argumenta.

O titular da Santo Antônio, padre Gabriel Zucki Bagatini, vê as capelinhas como um sinal de uma Igreja Católica que sai do templo e entra na casa das famílias.

A atuação das zeladoras junto à comunidade também reforçaria a participação em diversas outras pastorais. “Em uma realidade onde acolhemos os migrantes, é um sinal de ir ao encontro, estar junto”, diz.

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