Há 45 anos, no dia 29 de outubro de 1976, em uma sexta-feira, era inaugurada a Barragem Eclusa. A ocasião contou com a presença do presidente da República, governador do Estado, além de autoridades civis e militares da época. A obra, uma das maiores construções de engenharia do Vale do Taquari, até hoje cumpre o papel que lhe foi designado: de manter o Rio Taquari na cota 13 metros, permitindo a navegabilidade entre o Porto de Estrela e a cidade de Bom Retiro do Sul.
A manutenção do nível também possibilita a extração de água para o abastecimento da população. De margem a margem, a barragem tem 120 metros de comprimento e 17 metros de altura. Essa estrutura comporta e comanda a eclusa, no lado esquerdo, as seis comportas, que regulam o nível do rio à montante (acima da barragem) e o vertedor, que possibilita a geração de energia elétrica.
“Além disso, na extremidade do vertedor está a escada para permitir a subida dos peixes, na época da piracema”, explica o engenheiro mecânico e responsável pela barragem, André Felipe Leite Soares. A eclusa possui câmara com comprimento útil de 120 metros por 17 metros de largura, permitindo que embarcações com três mil toneladas de carga façam a transposição do desnível de aproximadamente 11,80 metros.
A construção abrange os municípios de Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul. No lado cruzeirense, fica a cascalheira da prefeitura municipal. Do lado bom-retirense, é possível aproveitar o espaço durante os dias de sol, das 13h às 18h. “No lado de Cruzeiro do Sul, temos placas de sinalização, proibindo a entrada de pessoas não autorizadas, mas nossas câmeras flagram vândalos com bastante frequência”, lamenta o engenheiro.
Duas décadas de construção
A Barragem Eclusa, única existente no Rio Taquari, teve sua construção definida em 1956, pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A edificação iniciou em 1958. Após permanecerem paralisadas por alguns anos, em função da falta de recursos, as obras foram retomadas, mediante convênio entre o Governo do Estado e o Ministério dos Transportes.
“Nessa ocasião, estavam executados, apenas, seus nove pilares, o que representava aproximadamente 25% das obras civis, nada havendo sido contratado em relação aos equipamentos”, revela Soares. Na prática, do Porto de Estrela, graças à Barragem Eclusa, uma embarcação com até três mil toneladas, têm acesso até o Porto de Rio Grande, no sul do Estado.
Em função da localização da barragem, houve necessidade da implantação de canais de navegação a jusante. A maior parte desses canais teve de ser aberta por causa das características geológicas do leito do rio, ao longo do trecho compreendido entre a cidade de Taquari e a eclusa de Bom Retiro do Sul.
“O trecho mantido em corrente livre, desde a confluência Taquari/Jacuí, apresenta 65 quilômetros. Nos primeiros 31 quilômetros as necessidades da navegação se restringem ao balizamento dos canais da hidrovia. Já à montante da barragem, a navegação acontece sem a necessidade de outros melhoramentos, até o Porto Fluvial de Estrela”, relata o engenheiro.
Foi notícia no Jornal Nova Geração
“O presidente, General Ernesto Geisel, durante a visita de 25 minutos, ouviu ampla exposição das obras da barragem eclusa do Rio Taquari e observou os diversos sistemas de funcionamento das comportas, inclusive com a presença de um navio na caixa da eclusa”, relatava o jornal Nova Geração, de 6 de novembro de 1976, referindo-se à sexta-feira anterior, dia 29 de outubro.
Estavam presentes na cerimônia, o então governador do Estado, Silval Guazzelli, ministro Arnaldo da Costa Prieto, vice-governador Amaral de Souza, chefe do Gabinete Militar da Presidência, Hugo Abreu, ministro dos transportes, Dirceu Nogueira; Diretor-presidente da Portobrás, engenheiro Arno Markus, deputado Federal Alberto Hoffmann, o prefeito de Bom Retiro do Sul, Egon Harry Lipp.
A publicação traz, também, que, para a obra, foram gastos 12.289 toneladas de aço, 65.020 metros cúbicos de concreto, foram executados 102.492 metros cúbicos em escavações, além de um aterro de 105.614 metros cúbicos. O custo total da obra, na época, chegou a 213 milhões de cruzeiros.
Ele viu a barragem nascer
José Emaldo Garcia (77) é um dos bom-retirenses que trabalhou na construção da barragem, de 1963 a 1975. Paixão, como é conhecido desde aquele tempo, começou atuando como mecânico e depois foi promovido a encarregado. “Essa foi a melhor época da minha vida. A partir de lá, só cresci”, conta Paixão.
O mecânico lembra que, para as escavações, foram instaladas “secadeiras”, estacas de ferro, encaixáveis e enterradas no fundo do rio. “As secadeiras cercavam o local onde escavávamos. Ali era colocado um dreno, e então podíamos trabalhar. Havia também uma porta de cada lado, para que a água, em caso de aumento do nível do rio, pudesse passar, sem destruir a armação”, conta Garcia.
O canteiro de obras inspirava cuidados. Naquela época, uma cheia repentina acabou matando um colega, que tentou tirar uma máquina do local das escavações. Outro acabou morrendo em função de um guincho, cujo cabo de aço arrebentou. “Não foram muitas vítimas, mas era perigoso. De alguma forma, a água podia pegar a gente desprevenido”, lembra.
Hoje, Paixão é dono de um comércio de material elétrico e ferragens, na rua Reinaldo Noschang, no bairro Centro Cidade Baixa, em Bom Retiro do Sul. Ainda assim, ele ordena as fotos, buscando relembrar a história de muito trabalho, mas muitas alegrias que passou, na construção da barragem.
A influência da Barragem Eclusa no nível das enchentes
As consequências da construção da Barragem Eclusa nas cheias do Rio Taquari, sempre foram dúvidas que povoavam o imaginário das pessoas. A última grande enchente, de junho de 2020, chegou à cota 20 metros, no local. “Pela primeira vez, tivemos que utilizar o caminho específico para a ocasião de cheias, para sairmos da sala de comando”, relata Soares.
A construção, porém, não influencia no nível da água. “Quando o rio enche, abrimos totalmente as comportas, para que a água tenha livre passagem. Apesar de a barragem ser uma construção grande, a água é tão mais poderosa, que ela passa pelos lados, por cima das comportas, sem que haja algum tipo de influência. A barragem fica minúscula em relação ao rio.”