Cerca de 3,8 mil quilômetros separam Iasmine Eidelwein, de 32 anos, do namorado Gustavo Miranda Gusmão, de 34. Ela é natural de Estrela e, atualmente, reside em Bom Retiro do Sul, enquanto que ele é pernambucano e mora em Recife. Há 12 anos se conheceram em uma ‘comunidade de futebol’ no Orkut,rede social que ganhou diversos usuários pelo mundo, em especial no Brasil.
Três anos e nove meses atrás decidiram iniciar o namoro e ultrapassar as barreiras existentes pela distância. Conforme Iasmine, desde o início tiveram ciência de que não teriam a presença física um do outro por longos períodos. Apesar disso, sempre mantiveram contato pela internet e, quando possível, atravessam o país para se verem. “Quando eu vou para Recife ou ele vem costumamos ficar mais dias. É muito longe e cara as passagens aéreas para fazer apenas um bate e volta. Ainda mais agora que tem menos voos”, explica ela.
O preconceito comum em relacionamentos que começam e permanecem pela internet é percebido pelo casal. “As pessoas acham que a gente está sempre viajando, mas não consideram o tempo que estamos longe”, analisa.
Pandemia
Devido à pandemia, o namoro sofreu ainda mais com a distância, já que precisaram remarcar as viagens. “Eu ia ao Recife em fevereiro, mas tive Covid-19. Depois a gente iria para o Rio de Janeiro, em abril, mas também precisamos cancelar pelo alto risco de contágio”, lembra. Por isso, a comemoração do Dia dos Namorados ficará para mais tarde. A princípio, Iasmine irá para a cidade pernambucana em julho. “É difícil fazer planos enquanto vivemos a incerteza da pandemia, mas existe uma tendência de eu me mudar para Recife, em breve”, adianta.
Do aplicativo para a vida
A internet possibilita que as pessoas encontrem amigos antigos, façam novas amizades e, inclusive, que namoros e casamentos surjam. É o caso do Gustavo Hausmann, de 30 anos, e Alana Lisik Hausmann, de 26. Moradores de Estrela, os dois se conheceram por meio do aplicativo de paquera “Happn”. É por lá que o usuário encontra as pessoas que cruzam seu caminho e, desta forma, começa a ter contato com elas. “Nos cruzamos no APP algumas vezes. Segui ela no Instagram e começamos uma conversa que culminou em uma ida a um barzinho. De lá para cá não paramos mais de nos falar”, recorda ele.
Juntos há três anos e meio, o namoro ‘oficial’ não ocorreu. O casal se conheceu e logo se casou, em 2018. “Fomos ‘ficando’ até que eu a pedi em casamento. Foi uma surpresa para a família e amigos, pois até então não tínhamos assumido um relacionamento. Sempre falamos que não importava o nome que daríamos para a relação, estávamos aproveitando e vivendo o momento”, afirma.
Desafios
Engatar um casamento logo “de cara” trouxe desafios. Segundo Hausmann, além deles aprenderem a viver como casal, morar e ter uma rotina juntos, ambos conheceram os defeitos e as qualidades um do outro. No início, tiveram que lidar também com os preconceitos por parte da comunidade. “Nunca nos importamos. Para algumas pessoas, o amor não era suficiente para o casamento, e sim algum outro motivo como gravidez, por exemplo. Mas penso que as pessoas sexualizam demais os aplicativos, quando o intuito deles é de unir”, avalia.
Dia dos Namorados diferente
Neste sábado, devido à pandemia, a comemoração será em casa. Grávida de 15 semanas, Alana pretende decorar a mesa e acender velas. “Faremos um jantar e assistiremos algum filme ou série”, conta. Para o futuro, o casal deseja ter estabilidade profissional, além de conseguir criar o bebê em um ambiente com amor e tranquilidade. “Que possamos continuar felizes e nos respeitando, que é o realmente importa”, salienta Alana.
Relacionamentos saudáveis
Relacionamentos, muitas vezes, passam por crises, seja pela distância, monotonia ou pelas descobertas de que os planos para o futuro não são os mesmos entre o casal. A psicóloga Jaqueline Mendes, de Estrela, explica como manter as relações saudáveis, sobretudo, em meio à pandemia.
Jornal NG – O que caracteriza um relacionamento saudável?
Jaqueline Mendes – A pessoa precisa estar satisfeita na relação, apesar das diferenças. Tem como base a autonomia, o carinho, a atenção, o respeito e a liberdade. O relacionamento se torna saudável à medida que paramos para avaliar a situação em que estamos e se somos felizes nela. Ter uma boa saúde mental e emocional em uma relação é sentir bem-estar e autoestima. A relação não é unilateral, é preciso ter uma troca contínua desse amor.
Jornal NG – A pandemia mudou os relacionamentos amorosos? De que forma?
Jaqueline Mendes – São novas formas de amar e confiar, e até mesmo de pensar. Com a questão da Covid-19, muitas pessoas tiveram medo de morrer e outras nem tanto. Com isso, passaram a se valorizar e a valorizar o outro. A pandemia é uma retomada, e mostra a necessidade de uma mudança nos paradigmas e evolução do universo.
Jornal NG – Qual dica você daria para manter bons relacionamentos e que conexão pode ser feita no Dia dos Namorados?
Jaqueline Mendes – É preciso avaliar as relações que estão sendo vivenciadas e se há diálogo. É necessário valorizar o potencial do outro e ressaltar as coisas boas. Se algo não estiver legal, que haja uma comunicação amorosa e não invasiva. Que as pessoas possam aproveitar o Dia dos Namorados, mas que também consigam construir uma relação saudável dia após dia. Que possamos crescer como ser humano, pois a pandemia quer nos mostrar o que realmente importa dentro do entendimento de cada um.